HISTÓRIAS SOBRE A TEQUILA
Neste post a gente vai apresentar uma história extensa da tequila. Nossa intenção inicial era fazer uma história breve, mas eram tantas informações que essa história super rica nos fascinou.
Foram séculos (senão milênios) para que a planta agave, matéria prima da tequila, percorresse, com o povo mexicano, todo longo caminho até chegar ao querido destilado mundialmente conhecido. Esta é uma jornada que se inicia com mitos indígenas e costumes das culturas pré-hispânicas e corre por vários séculos até finalmente se tornar a iguaria inebriante que a gente tanto ama, a tequila.
Pegue sua Quetzalli, sente no teu canto preferido, relaxe bem e acompanhe a gente nessa trajetória incrível da Tequila.
Quetzalcóatl
um deus generoso com corpo de serpente revestido de plumas, habitava o panteão asteca. Certo dia, ele e outros deuses criadores matutavam sobre o que poderiam fazer para alegrar a vida dos humanos na terra, para que estes não se sentissem tão sós; para que dançassem, rissem e logicamente reverenciassem eles, os deuses.
No meio do brainstorm do grupo, Quetzalcóatl lembrou-se da jovem e bela Mayahuel, que habitava outro céu, o céu das águas, salpicado de estrelas e que só surgia durante a noite. Falou para os colegas que ela, por sua conhecida beleza, poderia alegrar a existência dos homens. Nenhum desses deuses nunca a havia visto, mas se animaram e concordaram com a ideia. Quetzalcóatl partiu, então, para realizar a tal missão de resgatá-la.
Mas resgatar? Sim, resgatar, porque a bela vivia sob a guarda e proteção feroz de sua terrível avó, Tzintzimitl, uma deidade maligna que fazia de tudo para impedir que o sol chegasse à terra.
Mayahuel
Durante o sono da avó Tzintzimitl, o deus voou como o vento para conversar com Mayahuel e convencê-la do plano. Quando Quetzalcóatl a encontrou, ficou um tanto abestalhado por sua beleza e não soube muito o que dizer. Por sorte, ele não precisou se articular muito nos argumentos, pois toda a luz que o jovem deus emanava fez com que Mayahuel logo se apaixonasse também. Desceram os dois juntos à terra.
Durante a jornada, ambos os deuses, completamente apaixonados, prometeram amor eterno e, ao chegar na terra, entrelaçaram seus corpos formando uma linda árvore. Contudo, ao acordar, Tzintzimitl logo percebeu a ausência da neta e partiu em busca dela junto com suas cupinchas, os espíritos da escuridão, Tzitzimime. Ninguém sabe muito bem como, mas as Tzitzimime encontraram Mayahuel e, a mando da Avó, destruíram a planta formada, alimentando-se de todas as partes destroçadas da bela deusa.
A Origem da Tequila
A parte da árvore pertencente a Quetzalcóatl permaneceu intacta. Devastado por dentro, Quetzalcóatl esperou que os espíritos malignos voltassem e, então, retornando à sua forma de deus, recolheu e enterrou todos os restos e ossos espalhados de sua amada. No local do sepultamento dos restos de Mayahuel, nasceu o Metl, planta mãe, considerada divina pelos povos mesoamericanos antigos.
E é por esta planta chamada de Metl, ou Maguey, ou Agave que chegaremos à Tequila.
Curtiu a lenda?
Então confere aqui nossa embalagem de presente especial com essa temática!
O mito descrito acima é apenas um dos vários que se tem conhecimento sobre o agave, a “árbol de las maravillas”. Esta planta foi um vegetal tão central para algumas culturas pré-hispânicas da Mesoamérica que é possível encontrar várias histórias, mitos e lendas envolvendo-o. No século XVI, o Frei Francisco Jiménez escreveu sobre ela:
“Parece-me que apenas esta planta bastaria para prover todas as coisas necessárias à vida humana, pois os proveitos e vitalidades derivados de seu uso são quase inumeráveis”
Mas o que é o agave?
Um pouquinho de botânica: O gênero agave é conhecido por suas espécies suculentas (tipo aquelas que você tem em casa e nem precisa regar) e com estrutura adaptada para climas semi-áridos e desérticos. Tipicamente, suas espécies possuem forma de roseta em torno de um caule pequeno e curto. As folhas costumam ser longas, carnudas, lisas e pontiagudas. São muito fibrosas por dentro e suas laterais costumam ser revestidas por espinhos resistentes. Quando atingem a maturidade, do centro do caule se desenvolve uma grande haste com pequenas flores, que pode chegar a 5 metros dependendo da espécie. Uma vez que esta haste atinge seu pico, tendo espalhado suas sementes, a planta mãe morre.
Para que serve o agave?
Vestígios arqueológicos demonstram que o agave é utilizado há mais de 6 mil anos. Várias de suas espécies acompanharam a transição de grupos nômades caçadores-coletores para agricultores sedentários (no sentido de se fixar em um local e não de não ir à academia).
Ainda na era pré-colombiana, inúmeras técnicas e ferramentas foram desenvolvidas para tirar o melhor proveito do vegetal.
Das fibras resistentes do maguey, nome dado a algumas espécies do agave, eram produzidos tecidos, roupas, cordas, sapatos e papel; do seu caule robusto faziam-se bancos; seus espinhos eram utilizados como agulhas, alfinetes e até como instrumentos para sacrifício; as folhas secas podiam servir de material para telhados.
Mas, a parte que realmente nos interessa é sua seiva. Da seiva eram produzidos açúcar, vinagre, melaço e as primeiras bebidas alcoólicas que se tem registro nas Américas.
Aguamiel
Para se obter essa seiva nutritiva, chamada de aguamiel, os nativos arrancavam a haste central assim que ela começava a despontar (para evitar a morte da planta). Faziam, então, uma raspagem do miolo, produzindo um espaço oco nesse centro. Depois deste processo, e com a raspagem diária dos tecidos dessa “vasilha” formada na planta, a seiva começava a se acumular e brotar sem parar. Um maguey poderia dar até quatro litros diários de aguamiel.
Não há registro de quando exatamente surgiu a bebida alcoólica feita a partir do maguey e considerada sagrada pelos astecas, chamada em alguns locais de Pulque. O que se tem certeza é que os nativos da Mesoamerica tinham conhecimento deste processo muito antes da invasão espanhola e se utilizavam desta bebida leitosa e de baixo teor alcoólico de forma rigorosa em rituais, principalmente nos de sacrifício humano (histórias polêmicas para uma outra ocasião).
Pulque: avô de Tequila
O conquistador Hernán Cortés em sua segunda carta enviada ao rei da Espanha, Carlos V, em 1520, menciona pela primeira vez o uso difundido do maguey para produzir açúcar e vinho, que os indígenas chegavam até a vender. Em 1524, o conquistador registra que a bebida fermentada era chamada de “pulque”. Dificilmente o método de fabricação do pulque que conhecemos hoje se manteve o mesmo dos tempos pré-hispânicos. O fato é que o maguey e todo o conhecimento e uso que os nativos faziam da planta impressionaram os europeus.
E o pulque, caros amigos, nada mais é do que um antepassado longínquo da nossa amada tequila!
E, se ele é esse familiar distante na árvore genealógica da nossa queridinha Quetzalli, podemos falar que seu avô seja o vino mezcal. Apesar do nome, de vinho ele não tem nada e é considerado por alguns historiadores como o primeiro destilado produzido nas Américas.
COLONIZADORES ESPANHÓIS E O VINHO QUE NÃO ERA VINHO
Era costume entre os espanhóis consumir vinhos leves durante as refeições. Na Europa, o consumo de água podia ser arriscado uma vez que saneamento básico não era lá muito básico no século XVI e, muitas vezes, a água contaminada causava diversas doenças. O problema é que uvas viníferas simplesmente não existiam na América e, aparentemente, os espanhóis não gostaram muito do tal fermentado do maguey. Com o estoque de bebidas esgotados e sem nenhum vinhedo por perto, o jeito foi começar a testar alquimias com aquela planta tão central na vida dos indígenas. E aí que surge o tal do vino mezcal.
Porém, os espanhóis não ficaram muito satisfeitos com o tal avô da tequila e, a mando de Hernán Cortés, trouxeram videiras para cultivo nas terras conquistadas. O negócio deu tão certo que, em 1595, o rei Felipe II da Espanha teve que proibir o cultivo de vinhedos no México e outras colônias, por conta do declínio na exportação dos vinhos espanhóis.
Trabalhores mexicanos brindando Pulque, tal do fermentado de maguay
E é nessa fase que se tem registros do início da produção de destilados de agave e maguey na região de Jalisco (que viria a se tornar a grande zona produtora de tequila). Não se sabe ao certo se essa parte da história é verdade ou não, mas, como já começamos o primeiro capítulo da nossa história com a lenda da tequila, resolvemos manter este possível mito por aqui.
Pedro Sánchez de Tagle, o segundo Marquês de Altamira – que de marquês não tinha nada, chegou na região em 1600 e, já que não podia mais trabalhar na produção de vinho, investiu na plantação do agave e na produção de destilados a partir do maguey. Ele ficou conhecido como o “pai da tequila”, tendo sido o primeiro a construir uma taberna (nome dado aos antigos alambiques e destilarias mexicanos) em sua Fazenda Cuisillos por volta de 1610 e dado início à produção do vinho mezcal.
Verdade ou não, o importante é deixar claro que a história do desenvolvimento da tequila deixa de ser permeada por lendas de origem e pais criadores lá para o final do século XVIII, quando surge de fato documentação sobre a produção da bebida. No livro de 1742, “Historia de la Conquista de la Nueva-Galicia”, Don Matias de la Mota y Padilla, comenta sobre a popularidade crescente do vinho mezcal, que já era mais querido que o pulque. Ele também fala que a produção do destilado de mezcal começava nessa época a se concentrar, pela primeira vez, em torno de algumas famílias, uma herança que vemos até hoje no modelo de produção da tequila.
O VINHO MEZCAL NA VILA TEQUILA
Como a gente viu, o mezcal foi se difundindo na região colonial do México a partir de pequenas produções locais. Só na segunda metade do século XVIII é que surgem com mais frequência empreendimentos maiores para produção e comercialização do produto. O primeiro deles pertence, como documentado, à família Cuervo (sim, a da tequila José Cuervo), na cidade de Tequila.
Tequila foi uma vila fundada em 1530 por freis franciscanos. A cidade fica no estado de Jalisco, costa oeste do México atual. Durante os séculos iniciais da colônia, até boa parte do século XVIII, era uma cidadezinha com pequenas propriedades rurais. Com a exploração do agave para produzir mezcal, aos poucos foi rolando uma concentração das de terra na região.
Sabe-se que as primeiras terras pertencentes aos Cuervo no povoado de Tequila datam de 1758, quando José Antonio de Cuervo obteve licença da coroa espanhola para exploração agrária em terras de Tequila. Há historiadores que dizem que José Antonio de Cuervo já produzia, em suas propriedades, o vinho mezcal para comercialização.
Dois testamentos de José Prudencio de Cuervo, um dos filhos de José Antonio de Cuervo, demonstram a evolução das produções nas propriedades da família e dão pistas sobre a atividade em torno do agave. No primeiro desses testamentos, feito em 1787, ele menciona, sem grandes ênfases, a posse de 50 mil “cabezas de mezcal” semeadas. Em seu segundo testamento, datado de 1801, 14 anos depois, há um salto quantitativo imenso no número semeado de agaves: 336.407 “cabezas de mezcal”. Sim, você leu direito: trezentas e trinta e seis mil, quatrocentas e sete plantas (imagina quanta Quetzalli daria para produzir com esse tanto de agave!). É nessa hora que se revela a verdadeira força e interesse nesta produção.
Fábrica La Rojeña, destilaria mais antiga da América Latina
Estátua de Corvo, um símbolo da Família e da Tequila José Cuervo
Esses documentos podem indicar o interesse que José Prudencio e sua família possuíam pelo agave desde o início. Entre 1785 e 1795 a produção e venda de bebidas alcoólicas nas colônias foi proibida pelo reino espanhol na tentativa de favorecer as exportações espanholas. Em 1795 rolou a primeira licença para exploração econômica do vinho mezcal na região e, sem grandes surpresas, ela foi concedida em nome de José María de Cuervo, irmão de José Prudencio de Cuervo.
A indústria se provou muito lucrativa. Em 1805, a “Taberna de Cuervo”, de José María, produzia 400 mil “cribas” (recipientes) do destilado de mezcal por ano.
Em 1812, a foi herdada por María Magdalena de Cuervo e seu marido, Vicente Albino Rojas, que aumentou consideravelmente a produção, ampliando a distribuição para além da região de Jalisco. Lá para o meio do século XIX, Vicente Albino Rojas possuía espalhados por suas propriedades mais de três milhões de agaves semeados. A destilaria fundada por ele, La Rojeña, existe até hoje na cidade de Tequila e é considerada a mais antiga da América Latina.
Com isso, caro leitor, você pode imaginar que o mezcal produzido em Tequila vai ganhar muita visibilidade e força ao longo do tempo, até se tornar de fato a nossa amada tequila.
El Jimador, o trabalhador responsável por colheita de agaves usados para a produção de tequila
O louco século XIX e a expansão do mercado de Tequila
A história mexicana foi bastante conturbada durante o século XIX, com inúmeras guerras, rebeliões, golpes de Estado e intervenções estrangeiras que marcaram a história política e econômica da região. A independência mexicana foi conquistada em 1821, depois de quase 11 anos de guerra contra a metrópole espanhola. A turbulência se iniciou nas colônias espanholas com o avanço das tropas napoleônicas na Europa, que resultou na abdicação do rei espanhol Fernando VII em favor de Napoleão Bonaparte, em 1808 (aquele mesmo momento que a coroa portuguesa fugiu rapidinho para o Brasil, sabe?).
Durante a guerra de independência mexicana, o mercado mezcalero sofreu com a instabilidade. Um número grande de destilarias fechou, mas ainda assim o vinho mezcal era um item importante para as tropas de ambos os lados da guerra.
Após a independência, o vinho mezcal de Tequila passou a se consolidar, conquistando mercados internos e explorando pouco a pouco o gosto de mercados externos – principalmente por conta das várias intervenções (inconvenientes) da França e EUA no território. Em 1854, Ernest de Vigneaux, francês que se tornou prisioneiro de guerra no México, escreveu que “Tequila dá o seu nome à aguardente de mezcal, assim como Cognac nomeia destilados franceses”.
Na metade do século o nome da cidade já era usado para identificar o vinho mezcal fabricado por lá, mas foram necessárias mais algumas décadas para que “Tequila” fosse adotado de forma geral nas esferas industriais e comerciais, popularizando-se definitivamente.
O primeiro registro do mezcal nos EUA data de 1852, importado a partir do porto mexicano da cidade San Blas, próximo de Tequila.
Documentações históricas também mostram exportações de pequenas quantidades de mezcal para Espanha, Inglaterra e França entre 1873 e 1874. Em dezembro de 1870, no jornal “Chicago Tribune” sai uma nota na qual se lê: “há um tipo superior de mezcal, produzido próximo a Guadalajara e que recebeu o nome da vila em que é feito, ‘Tequila’. Ele é mais caro do que os outros e é comercializado também na Cidade do México e outras localidades, sendo uma boa opção para presentear amigos”.
A região de Jalisco e o vilarejo de Tequila teriam ainda uma vantagem em relação a outras localidades na produção do destilado mezcal: em meados do século XIX passou a existir um consenso de que o agave-azul, nativo da região de Tequila, tinha qualidade superior para produção do mezcal. O primeiro reconhecimento internacional da qualidade da produção do “mezcal de Tequila” aconteceu em 1893, durante a Feira Mundial de Chicago.
Fica claro que o boom do vinho mezcal produzido em Tequila estava bem delineado ao final do século XIX. A difusão de linhas de trem pela América do Norte ajudou o escoamento do produto, fazendo com que fosse espalhado com maior facilidade por todo continente; a quantidade de campos de agave-azul e destilarias sofria expansão na região; uma produção crescente se adaptava a métodos novos e otimizados de fabricação, que aprimoraram ainda mais a bebida; na virada do século, novos envases de vidro foram adotados para comercialização e por fim era de conhecimento geral que o mezcal de Tequila era superior a outros mezcales.
Da busca da mexicanidade à normalização da Tequila
A ditadura que se estendeu pelo fim do século XIX até a primeira década do XX, sob o comando do general Porfírio Díaz, trouxe certa estabilidade política e desenvolvimento econômico para as classes altas mexicanas, porém com desfavorecimento e esquecimento das classe baixas trabalhadoras e indígenas.
Neste período, houve um movimento de europeização dos costumes mexicanos, no qual os brandies ingleses e cognacs franceses foram adotados como símbolo de refinamento e civilidade. Os poderosos do país consideravam, nesta época, os vários tipos de mezcal como bebidas do “populacho”. A reação ao regime de Porfírio Diaz veio por meio da Revolução Mexicana, que estourou em 1910 e durou dez anos.
Alavancada pelo movimento revolucionário, teve início a busca por uma identidade nacional mexicana, que abriu caminho para que a tequila se tornasse a bebida nacional por excelência.
A tequila guardava um trunfo em relação a outros artigos, as raízes do produto carregavam a imagem perfeita da ancestralidade indígena, que tinha o maguey como planta sagrada, combinada com o toque europeu que transformou o pulque, trazendo em si a síntese do que seria um “México autêntico”, país nascido da mestiçagem. Sem idealizar esse processo, a tequila também levava consigo (como já vimos) uma carga de superioridade em relação aos outros mezcales, desse modo, ela se relacionava menos (em termos simbólicos) com as populações indígenas e pobres em geral.
Os movimentos artísticos e literários, movidos pelo sentimento de transformação na sociedade, passaram a forjar o caráter da mexicanidade. Em um importante romance sobre a revolução intitulado “Los de Abajo”, de 1916, o escritor Mariano Azuela descreve da seguinte forma sua personagem principal, um campesino de Zacatecas que se torna revolucionário: “Ao champanhe que efervesce na luz decomposta das lamparinas, Demétrio Macías preferia a clareza da Tequila de Jalisco”.
Algumas décadas após a revolução, nos anos trinta e quarenta, quando o nome “Tequila” já estava bem consolidado, a indústria cinematográfica mexicana também fez grande contribuição para povoar o imaginário do país com estereótipos sobre o jeito de ser dos mexicanos – incluindo aí o gosto pela tequila. Na mesma época também houve uma popularização do consumo da tequila nos EUA e expansão do mercado interno para a bebida em decorrência da Segunda Guerra Mundial, que praticamente acabou com as importações de bebidas provenientes dos países europeus.
Com força cada vez maior, os industriais tequileiros movimentaram-se para regular e proteger seu precioso produto. Fraudes não eram incomuns. Intermediários estrangeiros se beneficiavam por meio da adulteração do produto, uma vez que eram vendidos em barris, além de produções clandestinas no próprio México.
Ao fim da década de 40, o governo mexicano emitiu os primeiros padrões de qualidade que deveriam ser adotados para a produção da tequila: “La Norma Oficial Mexicana para la Calidad del Tequila” (NOM) definia a bebida como um mezcal produzido a partir do Agave Azul Tequilana Weber Amarilidáceas desenvolvida no estado de Jalisco e em terras com condições de meio ambiente semelhantes. Tal norma seguiu sendo atualizada e revisada ao longo do século. A última modificação registrada data de 2012 (NOM-006-SCFI-2012).
A norma se provou ineficiente na coibição de produtos clandestinos, levando a maior pressão por parte dos industriais do ramo. Em 1966, o Estado mexicano assinou o Acordo de Lisboa relativo à proteção das denominações de origem e administrado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), abrindo a chance para que a Tequila obtivesse sua Apelação de Origem Controlada (AOC) – processo que foi consolidado em 1977, dando à tequila reconhecimento internacional e certificação de produto originado apenas em regiões específicas do México.
Chegando ao fim da nossa longa história, temos assim que hoje em dia a Tequila só pode receber o nome de Tequila se produzida por fabricantes autorizados no estado de Jalisco e em algumas municipalidades dos estados de Nayarit, Michoacán, Guanajuato e Tamaulipas. Segundo a NOM-006-SCFI-2012 a tequila ainda deve ser feita por método específico a partir dos açúcares fermentados e depois destilados do coração, ou piña, do Agave tipo tequilana Weber A. variedade Azul, que deve compor de 51% a 100% da bebida. A NOM-006-SCFI-2012, além do nome enorme, conta com 23 páginas de detalhes e pormenores que regularizam e estabelecem os parâmetros exatos para que o destilado do Agave-Azul possa ser chamado de tequila.
A sua sorte é que você não precisa ler tudo isso para apreciar a Quetzalli, que está certificada pelo órgão regulatório independente, que existe desde 1994, o Consejo Regulador del Tequila (CRT). Nosso drink queridinho, além de não ter conservantes, corantes ou aditivos químicos é feito de Tequila real oficial.
Beatriz Aranha
Socióloga
Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e fez especialização em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Para vocês ficarem felizes, sou sagitariana com ascendente em leão. Ama ler, escrever, assistir a uns filmes clássicos e ficar de boa na praia curtindo o mar.
FONTES DE PESQUISA:
Websites:
- Tequila Rocks
- Tequila's History and Culture
- The history of the misunderstood spirit of tequila
- History Of Tequila And How To Enjoy The Liquor Britannica - Tequila
- ¿Cuándo nació el tequila y desde cuándo existe?
- Tequila's Denomination of Origin
- Mayahuel: el mito de creación del maguey
- La leyenda de Mayahuel, deidad creadora del maguey
- El mito del origen del maguey
- The Rise Of Tequila In The 18th & 19th Centuries
- El maguey. Breve historia
- Benitez, Fernando. “El Señor Maguey”,
- Artes de México, núm. 51, 2000, pp. 08-15.
- Bowen, Sarah. “Divided Spirits: Tequila, Mezcal, and the Politics of Production”, 2015.
- Gómez, Guadalupe Ródriguez. “La Denominación de Origen del Tequila: Pugnas de Poder y la Construcción de la Especificidad Sociocultural del Agave Azul”, 2007.
- Meza, René De León. “Vino de coco y vino mezcal, una historia comercial conjunta en la época colonial”, 2015.
- Meza, René De León. “Reflections on the Late Origin of Tequila Production in the Town of Tequila”, 2016.
- Muriá Rouret, José María. “El agave histórico. Momentos del tequila”, Artes de México, núm. 27, 1999, pp. 16-25.
- Orellana, Margarita de. “El agave tenaz. Microhistoria del tequila: el caso Cuervo”, Artes de México, núm. 27, 1999, pp. 29-35.
- Zapata, Ana Guadalupe V.; Paul, Gary. “Tequila: A Natural and Cultural History”, 2003.
1 comentário
Que história sensacional, e que publicação maravilhosa. Minha filha se chama Luna Quetzally e ler parte da história do Mexico tão bem elaborada foi um momento de grande bem estar. obrigada