O tema metanol em bebidas alcoólicas tem aparecido com frequência nos noticiários brasileiros, principalmente após casos recentes de intoxicação por bebidas adulteradas. Mas afinal: todas as bebidas têm metanol? Quanto é seguro? Como saber se um drink está adulterado?
Este guia completo responde a essas perguntas com base em dados de OMS, ANVISA, MAPA e NOM mexicana, além de artigos científicos e registros históricos. O objetivo é informar sem alarmar, oferecendo clareza e dicas práticas para o consumidor consciente.
O que é o metanol e por que ele aparece nas bebidas?
O metanol (álcool metílico) é um composto líquido, transparente e tóxico. Diferente do etanol — o álcool que bebemos em cervejas, vinhos e destilados — o metanol não pode ser ingerido em grandes quantidades.
No entanto, ele aparece naturalmente em pequenas doses. Isso acontece porque durante a fermentação de frutas e cereais, a pectina é quebrada, liberando traços de metanol. É por isso que vinhos, sidras, cachaças e até destilados contêm algum nível dessa substância.
Nos destilados, os produtores experientes descartam a primeira fração da destilação — chamada “cabeça” — que concentra mais metanol. Esse cuidado mantém a bebida dentro dos padrões de segurança.
Quais são os efeitos do metanol no corpo humano?
O problema do metanol é sua metabolização. No organismo, ele se transforma em formaldeído e depois em ácido fórmico, compostos que afetam gravemente o sistema nervoso e a visão.
Principais sintomas de intoxicação por metanol:
- Dores de cabeça, náuseas, tonturas.
- Visão borrada, pontos pretos, fotofobia.
- Respiração acelerada (acidose metabólica).
- Convulsões, coma.
- Cegueira irreversível a partir de ~10 mL de metanol puro (≈ 8 g).
- Morte a partir de ~30 mL de metanol puro (≈ 24 g).
Quanto de metanol existe em cada tipo de bebida?
Sim, todas as bebidas alcoólicas têm algum nível de metanol. A diferença é que nas bebidas legítimas esses níveis são baixos e controlados. Veja a tabela abaixo:
Bebida | Teor de metanol | Dose comum | Metanol por dose | Doses para ~8 g |
---|---|---|---|---|
Cachaça (40% vol.) | ~80 mg/L (limite BR) | 1 dose (50 mL) | ~4 mg | ~2.000 |
Vodka (40% vol.) | ~100 mg/L | 1 dose (50 mL) | ~5 mg | ~1.600 |
Gin (40% vol.) | ~120 mg/L | 1 dose (50 mL) | ~6 mg | ~1.330 |
Uísque (40% vol.) | ~200 mg/L | 1 dose (50 mL) | ~10 mg | ~800 |
Tequila (40% vol.) — média | ~200 mg/L | 1 dose (50 mL) | ~10 mg | ~800 |
Tequila (40% vol.) — máx. NOM-006 | ~1.200 mg/L | 1 dose (50 mL) | ~60 mg | ~133 |
Vinho (12% vol.) | ~200 mg/L | 1 taça (150 mL) | ~30 mg | ~270 |
Quais são os limites de metanol permitidos por lei?
- OMS: até ~20 mg/kg/dia podem ser metabolizados, mas não há dose segura.
- ANVISA/MAPA (Brasil): 20 mg/100 mL de álcool anidro (≈ 80 mg/L em destilados 40%).
- União Europeia: vinhos tintos até 400 mg/L; brancos até 250 mg/L.
- FDA (EUA): até 1000 mg/L em vinhos.
- NOM-006 (México): tequila deve conter entre 30 e 300 mg/100 mL de álcool anidro (≈ 120–1200 mg/L).
Quais foram os principais casos de intoxicação por metanol?
Itália, 1986
Vinhos adulterados com metanol levaram a 20 mortes e dezenas de casos de cegueira. Uma taça já era suficiente para intoxicar.
Bahia, 1999
Cachaças clandestinas causaram 35 mortes e deixaram ao menos 10 pessoas cegas. Mais de 9 mil litros foram apreendidos.
São Paulo, 2025
Surto com 6 casos confirmados, 2 mortes e uma jovem que perdeu totalmente a visão após beber gin adulterado em bar da capital.
Por que destilados são mais vulneráveis?
Os destilados concentram etanol — e junto dele, metanol. Se o produtor não descarta corretamente as cabeças da destilação, o teor aumenta. Além disso, destilados são os principais alvos de falsificadores: garrafas são reutilizadas, rótulos falsificados e preços baixos atraem consumidores desavisados.
Como identificar e evitar bebidas adulteradas?
- Confira lacre e selo fiscal em garrafas.
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado.
- Prefira bares de confiança e veja a garrafa ser aberta.
- Pare de beber se sentir sabor ou odor incomum.
- Denuncie suspeitas à vigilância sanitária ou polícia.
Perguntas frequentes sobre metanol em bebidas
- Qual bebida tem mais metanol? — A tequila pode chegar a até 1200 mg/L segundo a NOM mexicana, mas em média fica entre 200–300 mg/L.
- O vinho tem metanol? — Sim, em média 50–300 mg/L, sem risco quando dentro da lei.
- Quantos mL de metanol podem ser fatais? — Aproximadamente 30 mL (24 g) podem causar morte sem tratamento.
- Como diferenciar uma bebida adulterada? — Falta de lacre, rótulo falso, preço baixo demais e gosto estranho são sinais de alerta.
Glossário rápido
- Metanol: álcool tóxico usado industrialmente, não próprio para consumo.
- Etanol: álcool das bebidas, metabolizado em energia pelo corpo.
- Cabeça da destilação: fração inicial da destilação, rica em metanol, deve ser descartada.
- NOM-006: norma mexicana que regula a produção de tequila.
Conclusão
O metanol está presente em todas as bebidas alcoólicas, mas em níveis baixos e seguros quando a produção é fiscalizada. O perigo real vem da adulteração criminosa, que pode elevar o risco a níveis fatais. Consumidores atentos à procedência, preços e rótulos reduzem quase a zero a chance de intoxicação.
Referências bibliográficas
- MAPA – Instrução Normativa nº 13/2005 (Bebidas Alcoólicas).
- ANVISA – Regulamentos técnicos de qualidade de bebidas.
- OMS – Methanol poisoning reports.
- NOM-006-SCFI-2012 – Norma Oficial Mexicana para Tequila.
- Paine, A. & Dayan, A. D. (2001). Defining a tolerable concentration of methanol in alcoholic drinks.
- FDA (EUA). Methanol in wine safety.
- CNN Brasil
- G1
- El País