O mezcal é uma das bebidas mais autênticas e tradicionais do México. Produzido a partir do agave, com técnicas artesanais que remontam a séculos, ele oferece uma experiência sensorial única — mais intensa, defumada e rústica do que a tequila. Mas se você já tentou encontrar uma garrafa de mezcal no Brasil, provavelmente percebeu: é raro, caro e quase sempre limitado a poucos pontos de venda. Por quê?
Este artigo explora os motivos pelos quais o mezcal ainda não se estabeleceu no mercado brasileiro. Da falta de regulamentação legal à complexidade burocrática da importação de bebidas alcoólicas, passando por sugestões concretas para mudar esse cenário — e claro, com o posicionamento da Quetzalli como uma marca que valoriza a origem e apoia a autenticidade dos destilados naturais.
1. O que é mezcal e por que ele é especial?
Mezcal é um destilado feito a partir de diversas espécies de agave, e não apenas da agave tequilana (azul), como no caso da tequila. Ele pode ser produzido com até 30 tipos diferentes de agave, muitos dos quais são selvagens e cultivados de forma sustentável. A grande marca registrada do mezcal é seu sabor defumado, resultado do processo de cocção em fornos subterrâneos com lenha e pedras quentes.
Ao contrário da produção industrial de muitas bebidas, o mezcal mantém vivas práticas centenárias. É comum ver pequenos produtores familiares, chamados de “palenques”, produzindo lotes limitados com técnicas passadas de geração em geração.
2. Denominação de origem e reconhecimento internacional
O mezcal é protegido por uma denominação de origem (DO) desde 1994 [1]. Isso significa que apenas destilados produzidos em regiões específicas do México, com agaves autorizados e técnicas regulamentadas, podem legalmente ser chamados de mezcal. As principais regiões incluem Oaxaca, Durango, Guerrero, Puebla, entre outras.
3. O problema no Brasil: ausência de previsão legal
Apesar do reconhecimento internacional, o Brasil ainda não possui uma categoria oficial para “mezcal” na Tabela de Incidência do IPI (TIPI) nem no Sistema Harmonizado de classificação fiscal. O que isso quer dizer? Que não há uma linha legal que permita importar e registrar o produto no país com esse nome.
Com isso, a bebida entra no Brasil sob a classificação genérica de “aguardente de agave” ou “destilado alcoólico”. Isso prejudica a transparência, dificulta a rastreabilidade e, claro, gera insegurança jurídica para quem deseja importar, distribuir ou revender a bebida com responsabilidade.
4. Complexidade da importação e tributação
Além da ausência de categoria específica, o mezcal enfrenta o mesmo labirinto burocrático de qualquer bebida alcoólica importada:
- Registro no sistema RADAR/Siscomex;
- Licença de importação (LI);
- Apresentação de certificados de origem e análise laboratorial;
- Tributação alta: II, IPI, PIS, Cofins e ICMS (que pode ultrapassar 60% do valor do produto importado) [2].
5. As consequências para o consumidor brasileiro
Sem reconhecimento formal e com custos altos, o mezcal acaba restrito a poucos bares especializados ou e-commerces premium. A maioria das pessoas sequer sabe da existência do produto, ou tem acesso apenas a marcas genéricas, com pouca informação sobre origem, tipo de agave ou método de produção.
Resultado? O consumidor brasileiro é privado de uma das bebidas mais autênticas do mundo — e os produtores mexicanos perdem a chance de expandir sua cultura para um dos maiores mercados da América Latina.
6. Existe precedente para mudança?
Sim. Em 2018, Brasil e México firmaram um acordo de reconhecimento mútuo de indicações geográficas para “cachaça” e “tequila” [3]. Foi um marco importante que abriu portas para o comércio bilateral de bebidas típicas.
A inclusão do mezcal nesse tipo de acordo, ou ao menos sua incorporação formal à tabela de bebidas do MAPA e da Anvisa, seria o primeiro passo para liberar o caminho de entrada do mezcal no Brasil de forma segura, legal e valorizada.
7. O que a Quetzalli defende
A Quetzalli acredita na transparência, na origem e no respeito à biodiversidade. Nosso drink de maracujá leva tequila prata real com fruta natural, e não aroma artificial — justamente para valorizar o sabor de verdade.
Embora ainda não usemos mezcal, entendemos sua importância cultural e apoiamos a regulamentação formal da bebida no Brasil. Nossa missão é mostrar que drinks prontos podem — e devem — ser feitos com autenticidade e consciência.
8. Oportunidade de mercado e educação do consumidor
Mais do que uma questão regulatória, a entrada do mezcal no Brasil representa uma chance real de educar o público sobre bebidas de agave, ampliar a cultura de consumo consciente e criar conexões mais profundas com o que se bebe.
Consumidores querem mais do que rótulo bonito: querem saber de onde vem o que estão bebendo. E nisso, o mezcal tem muito a ensinar — e a conquistar.
📚 Referências Bibliográficas
- Consejo Regulador del Mezcal – crm.org.mx
- Receita Federal – gov.br/receitafederal
- Ministério da Agricultura – gov.br/agricultura
- Portal ComexStat – Estatísticas de importação brasileira de bebidas alcoólicas
- Entrevistas com importadores e distribuidores em feiras de bebidas (Apas Show, 2024)