Alavancada pelo movimento revolucionário, teve início a busca por uma identidade nacional mexicana, que abriu caminho para que a tequila se tornasse a bebida nacional por excelência. A tequila guardava um trunfo em relação a outros artigos, as raízes do produto carregavam a imagem perfeita da ancestralidade indígena, que tinha o maguey como planta sagrada, combinada com o toque europeu que transformou o pulque, trazendo em si a síntese do que seria um “México autêntico”, país nascido da mestiçagem. Sem idealizar esse processo, a tequila também levava consigo (como já vimos) uma carga de superioridade em relação aos outros mezcales, desse modo, ela se relacionava menos (em termos simbólicos) com as populações indígenas e pobres em geral.
Os movimentos artísticos e literários, movidos pelo sentimento de transformação na sociedade, passaram a forjar o caráter da mexicanidade. Em um importante romance sobre a revolução intitulado “Los de Abajo”, de 1916, o escritor Mariano Azuela descreve da seguinte forma sua personagem principal, um campesino de Zacatecas que se torna revolucionário: “Ao champanhe que efervesce na luz decomposta das lamparinas, Demétrio Macías preferia a clareza da Tequila de Jalisco”.
Algumas décadas após a revolução, nos anos trinta e quarenta, quando o nome “Tequila” já estava bem consolidado, a indústria cinematográfica mexicana também fez grande contribuição para povoar o imaginário do país com estereótipos sobre o jeito de ser dos mexicanos – incluindo aí o gosto pela tequila. Na mesma época também houve uma popularização do consumo da tequila nos EUA e expansão do mercado interno para a bebida em decorrência da Segunda Guerra Mundial, que praticamente acabou com as importações de bebidas provenientes dos países europeus.
Com força cada vez maior, os industriais tequileiros movimentaram-se para regular e proteger seu precioso produto. Fraudes não eram incomuns. Intermediários estrangeiros se beneficiavam por meio da adulteração do produto, uma vez que eram vendidos em barris, além de produções clandestinas no próprio México. Ao fim da década de 40, o governo mexicano emitiu os primeiros padrões de qualidade que deveriam ser adotados para a produção da tequila: “La Norma Oficial Mexicana para la Calidad del Tequila” (NOM) definia a bebida como um mezcal produzido a partir do Agave Azul Tequilana Weber Amarilidáceas desenvolvida no estado de Jalisco e em terras com condições de meioambiente semelhantes. Tal norma seguiu sendo atualizada e revisada ao longo do século. A última modificação registrada data de 2012 (NOM-006-SCFI-2012).
A norma se provou ineficiente na coibição de produtos clandestinos, levando a maior pressão por parte dos industriais do ramo. Em 1966, o Estado mexicano assinou o Acordo de Lisboa relativo à proteção das denominações de origem e administrado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), abrindo a chance para que a Tequila obtivesse sua Apelação de Origem Controlada (AOC) – processo que foi consolidado em 1977, dando à tequila reconhecimento internacional e certificação de produto originado apenas em regiões específicas do México.
Chegando ao fim da nossa longa história, temos assim que hoje em dia a Tequila só pode receber o nome de Tequila se produzida por fabricantes autorizados no estado de Jalisco e em algumas municipalidades dos estados de Nayarit, Michoacán, Guanajuato e Tamaulipas. Segundo a NOM-006-SCFI-2012 a tequila ainda deve ser feita por método específico a partir dos açúcares fermentados e depois destilados do coração, ou piña, do Agave tipo tequilana Weber A. variedade Azul, que deve compor de 51% a 100% da bebida. A NOM-006-SCFI-2012, além do nome enorme, conta com 23 páginas de detalhes e pormenores que regularizam e estabelecem os parâmetros exatos para que o destilado do Agave-Azul possa ser chamado de tequila.
A sua sorte é que você não precisa ler tudo isso para apreciar a Quetzalli, que está certificada pelo órgão regulatório independente, que existe desde 1994, o Consejo Regulador del Tequila (CRT). Nosso drink queridinho, além de não ter conservantes, corantes ou aditivos químicos é feito de Tequila real oficial.